Estas informações foram publicadas em março de 2020, primeiro em inglês, para os pacientes dos EUA. Elas foram revisadas pelo Dr. Carlos Sampaio para publicação em português. Dr. Carlos Sampaio é médico oncologista especializado em câncer de mama na Clínica AMO e é membro do Comitê de assuntos internacionais da American Society of Clinical Oncology.

Prezado amigo,

A American Society of Clinical Oncology (Sociedade Americana de Oncologia Clínica) e a National Coalition for Cancer Survivorship (Aliança Nacional para Sobrevivência ao Câncer) estão trabalhando juntas para dar informações sobre como o coronavírus 2019 (COVID-19) pode potencialmente afetar a saúde e o tratamento de pessoas diagnosticadas com câncer. Abaixo estão as respostas às perguntas clínicas frequentemente feitas pelos sobreviventes de câncer sobre a COVID-19, dadas pelo Dr. Richard Schilsky, diretor médico e vice-presidente executivo da American Society of Clinical Oncology. Não foi usado o nome de cada um relacionado com a preparação destas FAQs (perguntas frequentes). A National Coalition for Cancer Survivorship dará respostas a perguntas gerais sobre a COVID-19 e a defesa do paciente em seu site, canceradvocacy.org. A missão da National Coalition for Cancer Survivorship é defender a qualidade do tratamento do câncer de todas as pessoas impactadas pelo câncer. A American Society of Clinical Oncology representa aproximadamente 45.000 profissionais de oncologia que cuidam de pessoas que convivem com o câncer.

Observe que a American Society of Clinical Oncology e a National Coalition for Cancer Survivorship não podem responder perguntas pessoais, médicas ou legais, nem dar recomendações individuais de tratamento. Essa informação é dada somente para fins educacionais e não substitui uma consulta com seu médico ou outro profissional de saúde. Converse com o médico do estudo sobre todas as decisões individuais sobre o tratamento do câncer. O uso destas informações está sujeito aos Termos de Uso (em inglês) da American Society of Clinical Oncology.

Esperamos que estas informações sejam úteis para você.

Atenciosamente,

Dr. Richard Schilsky
Diretor médico e
Vice-presidente executivo da American Society of Clinical Oncology

Shelley Fuld Nasso
Diretora Executiva da National Coalition for Cancer Survivorship

P1: Você pode descrever resumidamente o que significa estar “imunocomprometido”?

O termo “imunocomprometido” se refere a indivíduos cujo sistema imune é considerado mais fraco, mais comprometido ou menos robusto do que o da média dos adultos saudáveis. A principal função do sistema imune é ajudar a combater as infecções. Indivíduos com sistema imune comprometido têm maior risco de desenvolver infecções, incluindo infecções virais como a COVID-19. Há muitas razões para que uma pessoa seja imunocomprometida: condições de saúde como câncer, diabetes ou doença cardíaca, idade avançada ou escolhas do estilo de vida como tabagismo podem contribuir para o enfraquecimento do sistema imune. Pacientes com câncer podem ter um risco maior de serem imunocomprometidos, dependendo do tipo de câncer, do tipo de tratamento que recebem, de outras condições de saúde e da idade. O risco de ser imunocomprometido é tipicamente maior durante o período de tratamento ativo do câncer como, por exemplo, durante o tratamento com quimioterapia. Não há nenhum teste específico para determinar se uma pessoa está imunocomprometida, embora achados como baixas contagens de glóbulos brancos do sangue ou baixos níveis de anticorpos (também chamados de imunoglobulinas) no sangue provavelmente indicam um estado imunocomprometido.

P2: O histórico de câncer aumenta seu risco de complicações de saúde decorrentes da COVID-19 (SARS-CoV-2)?

Aparentemente, pacientes com câncer e sobreviventes de câncer podem ter um risco maior de complicações de saúde decorrentes da COVID-19. Isso não é surpreendente, considerando que este grupo de indivíduos é frequentemente imunocomprometido. Há evidência emergente de que pacientes com malignidades hematológicas, incluindo leucemia, linfoma e mieloma múltiplo, podem ter um risco maior de infecções e complicações do que pacientes com outros diagnósticos de câncer. Também há evidência de que pacientes com câncer em progressão quando são diagnosticados com COVID-19 podem ter um risco maior de morte ou de complicações graves de saúde em comparação com aqueles com doença em remissão. Esta evidência está resumida em uma diferente publicação do blog Cancer.Net.

P3: O fato de ter recebido quimioterapia ou radioterapia no passado aumenta seu risco de ter COVID-19 ou de uma evolução mais grave da doença?

Até a presente data, há evidência limitada sugerindo que qualquer tratamento contra o câncer aumenta mais ou menos seu risco de ter COVID-19, em comparação com qualquer outra pessoa que esteja exposta ao vírus. Há algumas evidências de que pacientes com câncer podem apresentar quadro de COVID-19 mais grave, se adquirem a infecção, provavelmente porque o câncer e seu tratamento podem contribuir para o enfraquecimento de sistema imune, o que pode levar a uma redução da capacidade de combater infecções. Evidência emergente sugere que os pacientes com câncer de pulmão, que receberam quimioterapia no período de 3 meses de um diagnóstico de COVID-19, têm maior risco de morrer da infecção. Esta evidência está resumida em uma diferente publicação do blog Cancer.Net (em inglês e espanhol). Os pacientes que estão recebendo tratamento para câncer também procuram o sistema de saúde mais frequentemente do que a população geral, portanto, maior exposição nessa condição pode contribuir para um risco maior de pegar uma infecção, mas não se sabe disso com certeza neste momento. Os pacientes são aconselhados a discutir com sua equipe de atendimento ao câncer se visitas não essenciais à clínica podem ser espaçadas, reagendadas ou conduzidas por telefone ou videoconferência. Tenha em mente, no entanto, que pular um tratamento para câncer devido a preocupações sobre o risco de infecção com a COVID-19 é uma decisão séria e algo que deve ser discutido com o seu oncologista.

P4: Os sobreviventes de câncer devem seguir as recomendações gerais de saúde pública emitidas pelo CDC?

Com certeza. As recomendações gerais de saúde pública emitidas pelos Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA (Centers for Disease Control and Prevention, CDC) são de bom senso a qualquer momento, ainda mais durante situações como o surto da COVID-19. Atitudes como manter distanciamento social, lavar as mãos frequentemente e adequadamente, evitar grandes multidões, manter superfícies limpas e desinfetadas e não tocar no seu rosto quando suas mãos não estiverem totalmente limpas são boas estratégias para qualquer pessoa, mas talvez ainda mais importantes para pacientes com câncer e sobreviventes que podem estar imunocomprometidos. Você pode encontrar as orientações do CDC aqui no site.

P5: Quais orientações você tem para pacientes que estão recebendo terapias orais para câncer, tais como TKIs?

O câncer é uma condição séria que exige tratamento. Independentemente do tipo de tratamento, o melhor conselho é conversar com sua equipe de tratamento do câncer sobre se quaisquer modificações no seu regime de tratamento são necessárias ou não. Na ausência de quaisquer sintomas ou sinais da infecção da COVID-19, continuar o tratamento do câncer é, provavelmente, o melhor curso de ação.

P6: As pessoas que estão em terapias endócrinas, assim como para cânceres de ovário ou de mama, têm maior risco de ter COVID-19 ou uma doença mais grave?

Não há evidências específicas que sugiram que terapias endócrinas possam aumentar o risco de ter a COVID-19 ou de ter uma doença mais grave. A maioria das terapias endócrinas não suprime o sistema imune.

P7: Se um paciente com câncer ou sobrevivente de câncer sentir alguns dos primeiros sintomas como febre ou tosse, deve entrar em contato com o oncologista ou o clínico geral?

Se estiverem recebendo o tratamento ativo para câncer, os pacientes devem entrar em contato com o oncologista encarregado pelo tratamento por telefone e tomar quaisquer providências, conforme necessário. Caso contrário, os sobreviventes de câncer devem entrar em contato com seu clínico geral por telefone e tomar quaisquer providências, conforme necessário.

P8: Se uma pessoa está prestes a começar terapia de câncer, ela deve considerar adiar o tratamento devido à COVID-19? O que acontecerá se o paciente tiver sido infectado com a COVID-19?

Há muitos fatores a considerar quando se toma uma decisão importante, tal como adiar o tratamento do câncer, para prevenir uma possível infecção com a COVID-19. Os pacientes devem conversar com o oncologista encarregado pelo tratamento sobre os riscos de adiar o tratamento comparados como o benefício potencial de reduzir o risco de infecção. A discussão inclui as metas do tratamento do câncer, a probabilidade de que o câncer será controlado pelo tratamento que está sendo planejado, a intensidade e os efeitos colaterais do tratamento e os cuidados de apoio que estão disponíveis para reduzir os efeitos colaterais do tratamento.

P9: Eu tenho um cateter venoso central/acesso. O que devo fazer sobre lavá-lo regularmente?

Existe evidência de que a lavagem pode ocorrer em intervalos de até 12 semanas, sem nenhum aumento dos eventos adversos ou danos. Fale com a equipe de atendimento oncológico sobre a frequência de lavagem adequada para você e pergunte se você pode lavar o acesso por si mesmo, caso venha a ser necessário.

P10: Sou um sobrevivente de câncer que faz tomografia/exames de imagem regulares para detectar potenciais recorrências. Devo continuar fazendo estes exames?

Em geral, conforme recomendado pelo CDC, todas as consultas clínicas que podem ser adiadas sem risco para o paciente devem ser adiadas. Isso inclui consultas de controle de rotina para detectar recidiva de câncer. Em muitos casos, a frequência recomendada destas visitas já considera um intervalo (p. ex., 3 a 6 meses) aumentando, portanto, o tempo entre as avaliações, que ainda possam estar dentro das recomendações. Se você desenvolver um novo sintoma que possa indicar recidiva do câncer, você deverá entrar em contato com a equipe de tratamento de seu câncer e não esperar para a próxima avaliação agendada.

P11: O que mais posso fazer para ajudar a combater a COVID19?

O mais importante que você pode fazer é seguir as orientações de saúde pública dadas pelo CDC e pela Secretaria de Saúde de seu estado e de seu município, conforme mencionado na P4.

Outra forma de ajudar seria considerar a participação em estudos clínicos, tais como o estudo Beat19, o estudo NCI COVID-19 em participantes com câncer (NCCAPS) ou este estudo em Stanford (em inglês). Estes são estudos de que quase todos podem participar e que procuram saber mais sobre o que acontece antes, durante e após você ter sintomas da COVID-19.

P12: Existe alguma coisa que eu possa fazer para melhorar a minha saúde geral e o meu sistema imune?

Você deve seguir as recomendações da equipe de tratamento e as recomendações gerais para um estilo de vida saudável. Não fume, tenha uma dieta bem equilibrada, rica em frutas e verduras, faça exercícios regularmente, durma o suficiente e siga as orientações de saúde pública sobre distanciamento social e lavagem das mãos.

Os editores da Journal of Cancer Survivorship (Revista dos Sobreviventes de Câncer) escreveram um comentário (em inglês) que fornece uma lista de outras fontes de apoio para sobreviventes.

P13: Se eu tiver um atraso no tratamento, ou se, por alguma razão, precisar mudar a equipe para receber cuidados, existe qualquer coisa que deva fazer em relação aos meus prontuários médicos?

Se precisar mudar a equipe de cuidados de saúde, você deve providenciar uma cópia ou transferência de seus prontuários médicos para sua nova equipe. A transferência de um conjunto completo de prontuários é mais desejável, mas algumas partes deles são particularmente importantes, tais como o relatório de patologia que estabeleceu o seu diagnóstico de câncer, relatórios de quaisquer cirurgias ou tratamento de radiação realizado como parte do seu tratamento do câncer, um resumo de todos os tratamentos quimioterápicos recebidos e os resultados dos seus exames de imagem, raios-X ou outras avaliações de câncer mais recentes.

P14: Estou no processo de diagnóstico e estadiamento de câncer. O que devo fazer?

Considerando a circunstâncias atuais sobre a disponibilidade dos serviços médicos e no interesse da segurança do paciente, pode ser necessário abdicar de alguns dos procedimentos e testes realizados rotineiramente para estabelecer a extensão da propagação do câncer (estágio). Os pacientes devem discutir com o oncologista quais exames diagnósticos e de estadiamento provavelmente são mais informativos para desenvolver um plano inicial de tratamento e devem priorizar a realização de tais exames, se possível.

P15: Quero receber um segundo parecer sobre meu diagnóstico ou terapia recomendada, mas esta segunda opinião não é possível neste momento. O que devo fazer?

Nós incentivamos o segundo parecer, mas reconhecemos que pode ser difícil programá-la neste momento. Se um segundo parecer puder ser obtido por telefone ou teleconsulta, então esta deve ser considerada uma alternativa razoável em relação a não ter nenhum segundo parecer.

P16: Tenho várias comorbidades, além do câncer. Tenho maior risco para a COVID-19?  É importante se essas comorbidades estão controladas por medicamento?

Pacientes com comorbidades tais como hipertensão, doença cardiovascular, doença pulmonar, doença renal crônica, obesidade e diabetes, parecem ter risco particularmente elevado de complicações graves decorrentes da COVID-19. A maioria dos relatos não descreveu a extensão em que estas comorbidades foram controladas por medicação ou alteração no estilo de vida na ocasião do surgimento de infecção da COVID-19. Entretanto, é razoável presumir que as comorbidades que estão bem controladas por medicamento são menos prováveis de predispor uma pessoa a complicações graves decorrentes da COVID-19.

P17: O tabagismo e/ou uso de cigarro eletrônico aumentam o risco da COVID-19?

A American Society of Clinical Oncology não está ciente de dados específicos que relatem riscos da COVID-19 ou de complicações desta doença para usuários ou ex-usuários de cigarros eletrônicos. No entanto, é razoável presumir que tabagismo, uso de cigarros eletrônicos, ou outras exposições ou comportamentos que causam lesão pulmonar podem aumentar o risco de complicações decorrentes da COVID-19.

P18: A maioria das pessoas tem efeitos em longo prazo da COVID-19?

É muito cedo para saber quais serão os efeitos em longo prazo da COVID-19. No entanto, já está claro que alguns pacientes desenvolvem complicações em múltiplos sistemas orgânicos, incluindo complicações neurológicas, insuficiência renal, ataque ou insuficiência cardíaca e coágulos de sangue. Estas complicações graves podem ter consequências em longo prazo, mas o acompanhamento prolongado do paciente é necessário para compreender os efeitos em longo prazo.

P19: E sobre o teste de anticorpos para verificar quem foi exposto à COVID-19 ou é imune a ela?

Somente agora o teste de anticorpo está se tornando disponível. Ele testa se uma pessoa foi exposta ao vírus SARS-COV-2. É muito cedo para dizer se um teste positivo para anticorpos significa que uma pessoa tenha alguma forma de imunidade ao novo coronavírus.

P20: Foi dito que a COVID-19 pode causar cicatrização pulmonar. Há outras doenças que causam cicatrização pulmonar? Isso vai aumentar a chance de uma pessoa desenvolver câncer de pulmão no futuro?

Muitas infecções pulmonares agudas e crônicas podem causar formação de cicatrizes, assim como inflamação pulmonar crônica decorrente do tabagismo, exposição ocupacional a poeira ou asbesto ou doença autoimune. Se a formação de cicatriz aumenta o risco de câncer de pulmão, isso provavelmente está mais relacionado à causa subjacente da cicatrização (por exemplo, tabagismo ou exposição a amianto) do que à formação da cicatriz em si.

P21: Quais são as recomendações para repetir os testes de pacientes positivos para COVID antes de começar a quimioterapia?

Não se sabe quanto tempo um atraso após a infecção ter se resolvido pode ser necessário antes de iniciar ou reiniciar o tratamento do câncer. O tratamento não deve ser reiniciado até que os sintomas da COVID-19 tenham sido resolvidos e que haja alguma certeza de que o vírus não está mais presente, especificamente, um teste negativo para SARS-Cov-2, a menos que o câncer esteja progredindo rapidamente e a avaliação de risco/benefício favoreça o prosseguimento do tratamento do câncer.

A National Coalition for Cancer Survivorship dará respostas a perguntas gerais sobre a COVID-19 e a defesa do paciente em seu site, canceradvocacy.org (em inglês).

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